terça-feira, 30 de novembro de 2010

CONTO ERÓTICO - Luís Fernando Veríssimo

Postado por BeliM às 14:10 6 Engraçadinhos

CONTO ERÓTICO

-Assim ?
-É. Assim.
-Mais depressa ?
-Não. Assim está bem. Um pouco mais para...
-Assim ?
-Não, espere.
-Você disse que...
-Eu sei. Vamos recomeçar. Diga quando estiver bem.
-Estava perfeito e você...
-Desculpe.
-Você se descontrolou e perdeu o...
-Eu já pedi desculpa !
-Está bem. Vamos tentar outra vez. Agora.
-Assim ?
-Um pouco mais pra cima.
-Aqui ?
-Quase. Está quase !
-Me diga como você quer. Oh, querido...
-Um pouco mais para baixo.
-Sim.
-Agora para o lado. Rápido !
-Amor, eu...
-Para cima ! Um pouquinho...
-Assim ?
-Aí ! Aí !
-Está bom ?
-Sim. Oh, sim.
-Pronto.
-Não ! Continue.
-Puxa, mas você..
-Olha aí... Agora você...
-Deixa ver...
-Não, não. Mais para cima.
-Aqui ?
-Mais para o lado.
-Assim ?
-Para a esquerda !! O lado esquerdo !
-Aqui ?
-Isso ! Agora coça.

Luís Fernando Veríssimo




domingo, 28 de novembro de 2010

Selinhos

Postado por BeliM às 15:29 6 Engraçadinhos
Ganhei da Nina do blog Doce Meio Amargo!!!
Obrigada Nina!!! ^ ^

Ele tem algumas regrinhas!!! 
- Repassar o selo para 10 blog
-Avisar a cada bogueiro
-Falar 10 coisas sobre você

10 coisas sobre mim:

Sou distraída/Adoro livros/ Minhas cores favoritas são preto, vermelho e roxo/Tenho olhos verdes/ Adoro seriados de TV/ Adoro doces/ Ouço vários estilos de rock /Sou miope/Não gosto de cozinhar/Tenho vontade de ir para a Europa.

Os blogs que indico:


E esse selinho foi oferecido pela Mih do blog Descalça!!!
Lindooo Mih!!!

sábado, 27 de novembro de 2010

Felicidade clandestina - Clarice Lispector

Postado por BeliM às 12:11 7 Engraçadinhos
Felicidade clandestina
Clarice Lispector

LISPECTOR, Clarice - O Primeiro Beijo. São Paulo, Ed. Ática, 1996

Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos excessivamente crespos, meio arruivados. Tinha um busto enorme; enquanto nós todas ainda éramos achatadas. Como se não bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por cima do busto, com balas. Mas possuía o que qualquer criança devoradora de histórias gostaria de ter: um pai dono de livraria.

Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até para aniversário, em vez de pelo menos um livrinho barato, ela nos entregava em mãos um cartão-postal da loja do pai. Ainda por cima era de paisagem do Recife mesmo, onde morávamos, com suas pontes mais do que vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima palavras como "data natalícia" e "saudade".

Mas que talento tinha para a crueldade. Ela toda era pura vingança, chupando balas com barulho. Como essa menina devia nos odiar, nós que éramos imperdoavelmente bonitinhas, esguias, altinhas, de cabelos livres. Comigo exerceu com calma ferocidade o seu sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que ela me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que ela não lia.

Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía "As reinações de Narizinho", de Monteiro Lobato.

Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria.

Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança da alegria: eu não vivia, eu nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam.

No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez.

Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono de livraria era tranquilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do "dia seguinte" com ela ia se repetir com meu coração batendo.

E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.

Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados.

Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!

E o pior para essa mulher não era a descoberta do que acontecia. Devia ser a descoberta horrorizada da filha que tinha. Ela nos espiava em silêncio: a potência de perversidade de sua filha desconhecida e a menina loura em pé à porta, exausta, ao vento das ruas de Recife. Foi então que, finalmente se refazendo, disse firme e calma para a filha: você vai emprestar o livro agora mesmo. E para mim: "E você fica com o livro por quanto tempo quiser." Entendem? Valia mais do que me dar o livro: "pelo tempo que eu quisesse" é tudo o que uma pessoa, grande ou pequena, pode ter a ousadia de querer.

Como contar o que se seguiu? Eu estava estonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho que eu não disse nada. Peguei o livro. Não, não saí pulando como sempre. Saí andando bem devagar. Sei que segurava o livro grosso com as duas mãos, comprimindo-o contra o peito. Quanto tempo levei até chegar em casa, também pouco importa. Meu peito estava quente, meu coração pensativo.

Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar… Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.

Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.

Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante.


sexta-feira, 26 de novembro de 2010

"Eu não tinha esse rosto de hoje..." - Cecilia Meireles

Postado por BeliM às 21:16 5 Engraçadinhos
Em que espelho ficou perdida a minha face???

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Violência...

Postado por BeliM às 17:55 7 Engraçadinhos
 Eu, pelo menos, não moro no Rio de Janeiro, mas assistimos o noticiário e bem sabemos no que a "Cidade Maravilhosa" está se transformando... A violência e a corrupção poluindo um dos mais belos cartões postais do mundo. Muitos são os culpados por isso, incluindo toda a sociedade.



Talvez, o problema maior esteja no ser humano... Todavia, a solução também está no ser humano.

"A violência, seja qual for a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota."

Jean-Paul Sartre

"A violência destrói o que ela pretende defender: a dignidade da vida, a liberdade do ser humano."

João Paulo II

"A não-violência absoluta é a ausência absoluta de danos provocados a todo o ser vivo. A não-violência, na sua forma activa, é uma boa disposição para tudo o que vive. É o amor na sua perfeição."

Mahatma Gandhi



quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Chove. Há Silêncio - Fernando Pessoa

Postado por BeliM às 18:04 7 Engraçadinhos
Chove. Há Silêncio

Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...

Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...

Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente...

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Procura-se um amigo - Vinicius de Moraes

Postado por BeliM às 20:53 8 Engraçadinhos

Procura-se um amigo


Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.

Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.

Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.

Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.
Vinicius de Moraes



segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O que se passou quando Deus criou Adão e Eva? kkkk

Postado por BeliM às 15:10 4 Engraçadinhos
Estava eu passeando pela net, até que me deparo com umas tirinhas de humor muito show. Adorei! Na verdade, eu já conhecia o blog do criador dos quadrinhos e é muito legal! O Blog é Um Sábado Qualquer e tem uma série em quadrinhos cujo personagem principal é "deus", mas nada ofenda ou religioso. Vale a pena conferir!

Acidentes acontecem...









Relacionamento... Deus, Adão e Eva rs.

Igual Semelhança...






 

Decepção...

Coisas que não deveriam ter sido criadas...


Filosofando... 
 

Finalmente alguém...

Instinto feminino...





domingo, 21 de novembro de 2010

Música - Cecília Meireles

Postado por BeliM às 13:55 5 Engraçadinhos
Música

Noite perdida,
não te lamento:
embarco a vida

no pensamento,
busco a alvorada
do sonho isento,

puro e sem nada,
- rosa encarnada,
intacta, ao vento.

Noite perdida,
noite encontrada,
morta, vivida,

e ressuscitada...
(Asa da lua
quase parada,

mostra-me a sua
sombra escondida,
que continua

a minha vida
num chão profundo!
- raiz prendida

a um outro mundo.)
Rosa encarnada
do sonho isento,

muda alvorada
que o pensamento
deixa confiada

ao tempo lento...
Minha partida,
minha chegada,

é tudo vento...

Ai da alvorada!
Noite perdida,
noite encontrada...

Cecília Meireles, in 'Viagem'

sábado, 20 de novembro de 2010

ARMÁRIO - Luís Fernando Veríssimo

Postado por BeliM às 08:50 5 Engraçadinhos
ARMÁRIO

Eu queria, senhora, ser o seu armário
e guardar os seus tesouros como um corsário
Que coisa louca: ser seu guarda-roupa!
Alguma coisa sólida circunspecta
e pesada nessa sua vida tão estabanada.
Um amigo de lei (de que madeira eu não sei)
Um sentinela do seu leito com todo o respeito.
Ah, ter gavetinhas para suas argolinhas
Ter um vão para seu camisolão e sentir o seu cheiro, senhora, o dia inteiro
Meus nichos como bichos engoliriam suas meias-calças,
seus soutiens sem alças, e tirariam
nacos dos seus casacos,
E no meu chão,como trufas, as suas pantufas...
Seus echarpes, seus jeans, seus longos e afins
Seus trastes e contrastes.
Aquele vestido com asa e aquele de andar em casa.
Um turbante antigo. Um pulôver amigo. Bonecas de pano.
Um brinco cigano.Um chapéu de aba larga.
Um isqueiro sem carga.Suéteres de lã e um estranho astracã.
Ah, vê-la se vendo no meu espelho, correndo.
Puxando, sem dores, os meus puxadores.
Mexendo com o meu interior à procura de um pregador.
Desarrumando meu ser por um prêt-à-porter...
Ser o seu segredo,senhora, e o seu medo.
E sufocar com agravantes todos os seus amantes.

Luís Fernando Veríssimo

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Desafio do 7

Postado por BeliM às 07:07 5 Engraçadinhos

Recebi esse desafio super legal da Mika, do blog Palafraseando.
 Um meme com uma brincadeira bem divertida.

7 coisas que pretendo fazer antes de morrer:
1- Viajar para vários lugares do mundo.
2- Tirar minha carteira de motorista, se Deus quiser até o final do ano!
3- Ter minha livraria. *.*
4- Namorar, quem sabe, casar, ter filhos, esse tipo de coisas...
5- Ter minha própria casa.
6- Fazer outra faculdade...
7- Ter uma vida muito feliz com aqueles que amo!

7 coisas que mais digo:
1- Sabe... (Maldito vicio linguístico... =/)
2- Obrigada! (Pq sou uma pessoa muito educada! ^^)
3- Oh, My God! (Pq em inglês é mais chique, bem! =P)
4- Oi! (Pq temos que sempre cumprimentar as pessoas!
5- Tchau! (Oras, pq me despeço sempre das pessoas!)
6- Desculpa! (Vivo cometendo gafes ou me esbarrando com alguém! =x)
7- Mãeee! (Pq vivo chamando minha mãe! Sim, eu ainda dependo dela! Sem ela não vivo! rs. XD)

7 coisas que faço bem:
1- Ler livros ^^
2- Ouvir música ^^
3- Assistir fielmente cada episódio de todos os seriados que curto (Fanática *__*)
4- Economizar, menos com livros, sapatos, roupas, bolsas e acessórios... (Eu sei, eu sei... ¬¬)
5- Estudar História... ;D
6- Trabalhos manuais  ^^
7- não fazer nada por horas... =P

7 defeitos:
1- Preguiçosa
2- Desconfiada
3- Timidez
4- Teimosa
5- Atrapalhada
6- Um pouco implicante...
7- Distraída

7 coisas que mais amo:
1- Deus
2- Meus pais e família
3- Amigos
4- Livros
5- Filmes, Seriados e Desenho animado
6- Sair para comer...
7- Internet, Blog, Twitter e Meme

7 qualidades:
1- Sincera
2- Generosa
3- Paciente
4- Delicada
5- Estudiosa
6- Honesta
7- Educada

7 blogs que repasso:
http://vivian-floreselivros.blogspot.com/
http://ameninaqueroubavaasimesma.blogspot.com/
http://doce-meio-amargo.blogspot.com/
http://alejandroeelenadelavega.blogspot.com/
http://2edoissao5.blogspot.com/
http://gigicandy.blogspot.com/
http://plantandoamor.blogspot.com/




Este selinho super romantico foi oferecido pelo Blog Alejandro e Elena de La Vega! Obrigada! ^^




quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Os Ombros Suportam O Mundo - Carlos Drummond de Andrade

Postado por BeliM às 12:56 4 Engraçadinhos
Os Ombros Suportam O Mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Carlos Drummond de Andrade






"A história é..." - Marc Bloch

Postado por BeliM às 12:44 0 Engraçadinhos
"A história é a ciência dos homens, dos homens no seu tempo."

Marc Bloch




"Os dias..." - Marcel Proust

Postado por BeliM às 12:40 0 Engraçadinhos
"Os dias talvez sejam iguais para um relógio, mas não para um homem."

Marcel Proust

domingo, 14 de novembro de 2010

A Mentirosa Liberdade - Lya Luft

Postado por BeliM às 19:20 4 Engraçadinhos

A Mentirosa Liberdade
"Liberdade não vem de correr atrás de 'deveres' impostos de fora, mas de construir a nossa existência"

Comecei a escrever um novo livro, sobre os mitos e mentiras que nossa cultura expõe em prateleiras enfeitadas, para que a gente enfie esse material na cabeça e, pior, na alma – como se fosse algodão-doce colorido. Com ele chegam os medos que tudo isso nos inspira: medo de não estar bem enquadrados, medo de não ser valorizados pela turma, medo de não ser suficientemente ricos, magros, musculosos, de não participar da melhor balada, do clube mais chique, de não ter feito a viagem certa nem possuir a tecnologia de ponta no celular. Medo de não ser livres.

Na verdade, estamos presos numa rede de falsas liberdades. Nunca se falou tanto em liberdade, e poucas vezes fomos tão pressionados por exigências absurdas, que constituem o que chamo a síndrome do "ter de". Fala-se em liberdade de escolha, mas somos conduzidos pela propaganda como gado para o matadouro, e as opções são tantas que não conseguimos escolher com calma. Medicados como somos (a pressão, a gordura, a fadiga, a insônia, o sono, a depressão e a euforia, a solidão e o medo tratados a remédio), cedo recorremos a expedientes, porque nossa libido, quimicamente cerceada, falha, e a alegria, de tanta tensão, nos escapa.

Preenchem-se fendas e falhas, manchas se removem, suspendem-se prazeres como sendo risco e extravagância, e nos ligamos no espelho: alguém por aí é mais eficiente, moderno, valorizado e belo que eu? Alguém mora num condomínio melhor que o meu? Em fileira ao longo das paredes temos de parecer todos iguais nessa dança de enganos. Sobretudo, sempre jovens. Nunca se pôde viver tanto tempo e com tão boa qualidade, mas no atual endeusamento da juventude, como se só jovens merecessem amor, vitórias e sucesso, carregamos mais um ônus pesadíssimo e cruel: temos de enganar o tempo, temos de aparentar 15 anos se temos 30, 40 anos se temos 60, e 50 se temos 80 anos de idade. A deusa juventude traz vantagens, mas eu não a quereria para sempre: talvez nela sejamos mais bonitos, quem sabe mais cheios de planos e possibilidades, mas sabemos discernir as coisas que divisamos, podemos optar com a mínima segurança, conseguimos olhar, analisar e curtir – ou nos falta o que vem depois: maturidade?

Parece que do começo ao fim passamos a vida sendo cobrados: O que você vai ser? O que vai estudar? Como? Fracassou em mais um vestibular? Já transou? Nunca transou? Treze anos e ainda não ficou? E ainda não bebeu? Nem experimentou uma maconhazinha sequer? E um Viagra para melhorar ainda mais? Ainda agüenta os chatos dos pais? Saiba que eles o controlam sob o pretexto de que o amam. Sai dessa! Já precisa trabalhar? Que chatice! E depois: Quarenta anos ganhando tão pouco e trabalhando tanto? E não tem aquele carro? Nunca esteve naquele resort?

Talvez a gente possa escapar dessas cobranças sendo mais natural, cumprindo deveres reais, curtindo a vida sem se atordoar. Nadar contra toda essa louca correnteza. Ter opiniões próprias, amadurecer, ajuda. Combater a ânsia por coisas que nem queremos, ignorar ofertas no fundo desinteressantes, como roupas ridículas e viagens sem graça, isso ajuda. Descobrir o que queremos e podemos é um bom aprendizado, mas leva algum tempo: não é preciso escalar o Himalaia social nem ser uma linda mulher nem um homem poderoso. É possível estar contente e ter projetos bem depois dos 40 anos, sem um iate, físico perfeito e grande fortuna. Sem cumprir tantas obrigações fúteis e inúteis, como nos ordenam os mitos e mentiras de uma sociedade insegura, desorientada, em crise.

Liberdade não vem de correr atrás de "deveres" impostos de fora, mas de construir a nossa existência, para a qual, com todo esse esforço e desgaste, sobra tão pouco tempo. Não temos de correr angustiados atrás de modelos que nada têm a ver conosco, máscaras, ilusões e melancolia para aguentar a vida, sem liberdade para descobrir o que a gente gostaria mesmo de ter feito.

Lya Luft

sábado, 13 de novembro de 2010

O MORTO - Mário Quintana

Postado por BeliM às 13:36 3 Engraçadinhos
O MORTO

Eu estava dormindo e me acordaram
E me encontrei, assim, num mundo estranho e louco...
E quando eu começava a compreendê-lo
Um pouco,
Já eram horas de dormir de novo!

Apontamentos de História Sobrenatural

Mário Quintana

Selinhos =D

Postado por BeliM às 13:07 0 Engraçadinhos
Ganhei alguns selinhos muito especiais!

Este eu ganhei do Blog 2 e dois são 5:


Este eu ganhei do Blog Júh Doce Mel. Foi ela que fez para presentear os blogs! Muitoooo lindo Juh! 


Este aqui eu ganhei da Vanessa, do Blog A Menina que roubava a si mesma ! Muito legal e ele tem uma regrinha: publicar 3 ou mais coisas que te deixam feliz!

O que me faz feliz:

1- As pessoas que amo e o carinho delas... Minha família, amigos e os amigos virtuais...
2) Ler livros, não importa o gênero... Adoro!
3)Assistir filmes e seriados com amigos
4)Comer brigadeiro
5) Viajar para lugares diferentes

E este também foi da Vanessa!


Obrigada a todos pelo carinho! Os selinhos são lindos!

E com todo o carinho eu ofereço a todos que passam por aqui! 

^.^ v


sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Arnaldo Jabor

Postado por BeliM às 19:51 2 Engraçadinhos
Essa crônica de Arnaldo Jabor é maravilhosa!

Pessoas Inteligentes

Conta-se que numa cidade do interior um grupo de pessoas se divertia com o idiota da aldeia. Um pobre coitado, de pouca inteligência, vivia de pequenos biscates e esmolas.
Diariamente eles chamavam o idiota ao bar onde se reuniam e ofereciam a ele a escolha entre duas moedas: uma grande de 400 REIS e outra menor, de 2.000 REIS. Ele sempre escolhia a maior e menos valiosa, o que era motivo de risos para todos.
Certo dia, um dos membros do grupo chamou-o e lhe perguntou se ainda não havia percebido que a moeda maior valia menos. 'Eu sei' - respondeu o tolo assim: 'Ela vale cinco vezes menos, mas no dia que eu escolher a outra, a brincadeira acaba e não vou mais ganhar minha moeda.'

Pode-se tirar várias conclusões dessa pequena narrativa:

A primeira: Quem parece idiota, nem sempre é.
A segunda: Quais eram os verdadeiros idiotas da história?
A terceira: Se você for ganancioso, acaba estragando sua fonte de renda.
Mas a conclusão mais interessante é: A percepção de que podemos estar bem, mesmo quando os outros não têm uma boa opinião a nosso respeito. Portanto, o que importa não é o que pensam de nós, mas sim, quem realmente somos. O maior prazer de uma pessoa inteligente é bancar o idiota, diante de um idiota que banca o inteligente.

Arnaldo Jabor

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

TU E EU - Luis Fernando Veríssimo

Postado por BeliM às 15:01 2 Engraçadinhos
TU E EU

Somos diferentes, tu e eu.
Tens forma e graça
e a sabedoria de só saber crescer
até dar pé.
E não sei onde quero chegar
e só sirvo para uma coisa
- que não sei qual é!
És de outra pipa
e eu de um cripto.
Tu, lipa
Eu, calipto.

Gostas de um som tempestade
roque lenha
muito heavy
Prefiro o barroco italiano
e dos alemães
o mais leve.
És vidrada no Lobão
eu sou mais albônico.
Tu,fão.
Eu,fônico.

És suculenta
e selvagem
como uma fruta do trópico
Eu já sequei
e me resignei
como um socialista utópico.
Tu não tens nada de mim
eu não tenho nada teu.
Tu,piniquim.
Eu,ropeu.

Gostas daquelas festas
que começam mal e terminam pior.
Gosto de graves rituais
em que sou pertinente
e, ao mesmo tempo, o prior.
Tu és um corpo e eu um vulto,
és uma miss, eu um místico.
Tu,multo.
Eu,carístico.

És colorida,
um pouco aérea,
e só pensas em ti.
Sou meio cinzento,
algo rasteiro,
e só penso em Pi.
Somos cada um de um pano
uma sã e o outro insano.
Tu,cano.
Eu,clidiano.

Dizes na cara
o que te vem a cabeça
com coragem e ânimo.
Hesito entre duas palavras,
escolho uma terceira
e no fim digo o sinônimo.
Tu não temes o engano
enquanto eu cismo.
Tu,tano.
Eu,femismo.

Luis Fernando Veríssimo

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